Fazendo a diferença

Angelita Yanomami é uma das mulheres que participou do 9º Encontro de Mulheres Yanomami, ocorrido em março deste ano na Terra Indígena Yanomami, em Roraima. Ela conta sua história para Ana Terra Yawalapiti, que está construindo uma casa para as mulheres de sua aldeia, no Parque Indígena do Xingu.

“Por isso, a minha vida, eu queria ajudar as mulheres Yanomami”

Angelita Yanomami é intérprete na Maternidade de Boa Vista (RR) e desempenha um importante papel na interlocução entre mulheres Yanomami e o mundo não indígena. Ela participa do projeto de confecção de tipoias desenvolvido pelo ISA e pela Hutukara Associação Yanomami na Casai, o qual visa tratar da vulnerabilidade das mulheres aguardando atendimento nesta situação. Angelita também foi professora na escola indígena Yanomami.

“Comecei o meu trabalho com as mulheres Yanomami na Casai. Pensamos como nós vamos ajudar as mulheres que estão internadas na cidade. Porque nós mulheres fazemos muitas coisas nas nossas comunidades e aqui na cidade elas não aguentam paradas sem fazer as suas atividades. Por isso eu comecei a trabalhar com as mulheres para fazer as tipóias na Casai”.

“Por que a gente não faz algo que seja nosso?”

Ana Terra Yawalapiti, xinguana da aldeia Tuatuari, no Alto Xingu, é uma das idealizadoras de um projeto para mulheres inovador no Parque Indígena do Xingu. A ideia de construir a Casa das Mulheres começou faz três anos. Sonho dela e de sua irmã. Na tradição indígena, a Casa dos Homens é o lugar onde eles se reúnem para tomar decisões. Mulheres não entram. Em algumas etnias, como os Yawalapiti, existem objetos sagrados, como as flautas sagradas, que não podem ser vistas por mulheres. A inauguração da Casa das Mulheres está prevista para agosto.

“Tudo começou quando eu voltei pra aldeia e comecei a participar das atividades. No mutirão comunitário elas [as mulheres] começaram a demonstrar que estavam precisando de muitas coisas. Foi onde eu vi também que tinha alguma coisa errada com a minha comunidade feminina. Muita coisa da nossa cultura, eu percebi, que estavam se perdendo. Então veio uma estrela na cabeça. Do nada comecei a pensar porque não fazer alguma coisa pra gente não perder nossa identidade. Por que a gente não faz algo que seja nosso? Demorou, levou quatro anos para a gente realizar a nossa casa da mulher. Foi uma luta e tanto. Era uma conversa uma atrás da outra, com as mulheradas. Vamos transformar ela num memorial de mulheres: vamos guardar tudo que é de mulher”..